sábado, 19 de setembro de 2015

Sobre a arte da escrita

Espero que você conheça o Stephen King, ou pelo menos, já tenha ouvido falar, porque é dele que vou falar hoje.
O grande mestre do terror e do suspense, nos presenteou com um livro chamado “Sobre a Escrita” que chegou esse ano no Brasil pela Suma das Letras. É como se fosse um guia prático para aqueles que tem a pretensão de se tornar escritor um dia. Mas é bem mais do que isso. Com uma linguagem clara e direta, ele desafia o leitor a cada episódio que acha necessário fazer e nos diz que podemos simplesmente fechar o livro.

Claro que também há a parte biográfica, onde ele conta, de forma muito divertida, seus passos na infância, adolescência e maturidade, sem esquecer de ser sincero, muito sincero na parte da dependência de drogas e álcool. O que nos aproxima dele de forma natural, parece que estamos conversando com o Sr. King na sala de casa.
Mas o grande lance desse livro, com título original “On Writing” escrito em 2000, é que ele consegue acabar com o misticismo que envolve a carreira de um escritor profissional, acaba definitivamente com a aura inebriada pela fumaça de cigarros, álcool, longas madrugadas sem inspiração, delírios e um certo charme de “ter” de ser assim para se tornar um bom escritor.
Nada disso. Se você quer se tornar um escritor profissional, você deve, é claro, saber escrever. Ele diz que todos temos uma caixa de ferramentas dentro de nós, por mais que não tenhamos estudado letras, sabemos como escrever bem e devemos usar todas as ferramentas que estão em nossa caixa para isso: gramática, pontuação, verbos, noção de parágrafo, diálogo e o interessante uso de advérbios. Além de usar essa caixa e pegar as ferramentas necessárias a cada momento, devemos também ler muito, ler tudo, tudo o que for possível e estiver disponível, ao nosso alcance. Ele diz: ‘se você não tem tempo para ler, não tem tempo para escrever’.
Mas voltando ao grande lance do livro é que para se tornar um escritor profissional de verdade, para ser lançado por uma editora, você deve ter uma árdua rotina e nenhuma, ou quase nenhuma vida social. Ele escreve todos os dias, para a imprensa em geral diz que só não escreve no Natal, mas desmente isso no livro. Stephen King escreve duas mil palavras por dia na parte da manhã. O resto do seu dia é divido entre leituras de cartas de fãs, coleta de ideias para seu próximo livro, conviver em família, fazer algumas refeições, caminhar e ler. Ele nunca para de escrever como também nunca para de ler.
Se você quer que a musa inspiradora apareça para você, que no caso dele não é uma mulher, e sim um homem, essa ‘inspiração’ deve saber quando e onde te encontrar, e ela tem que te encontrar trabalhando, escrevendo. Não adianta ficar sentado esperando

ela chegar, porque não vai, são raras as suas aparições, e não se pode esperar isso acontecer para você começar a escrever o seu livro.
Então, faça chuva, sol, tempestade, ventania, frio, calor, granizo, não importa, escreva todos os dias. Tenha um local específico para isso, um lugar onde você possa simplesmente ‘fechar a porta’, ficar longe das conversas rotineiras e telefonemas inoportunos e principalmente, nos dias de hoje, da TV e das redes sociais. Se isole, fique lá e não saia enquanto não atingir sua meta diária de palavras. Não mantenha nada dentro desse quarto que possa lhe distrair e não saia de lá até ter escrito, no começo pelo menos, mil palavras por dia.

Esqueça festas e baladas, esqueça sua vida social, esqueça a hora do almoço, não tire seu livro do seu foco principal. E se você quiser mesmo se tornar um escritor, você irá encontrar esse tempo para escrever. Ele não fala para você abandonar seu emprego e ficar o dia inteiro escrevendo, mas pede para se esforçar, escrever mesmo que esteja cansado, com sono, com fome ou até doente, escreva.
Outra coisa muito interessante é a persistência. Se é isso mesmo que você quer, não desista, porque até mesmo o Stephen King espetava suas recusas em um prego na parede, e eram muitas. Não desista na primeira tentativa, não desanime com o primeiro ‘não’, siga em frente se for isso mesmo que você quer para a sua vida.
Claro que ele começou a escrever desde muito cedo, sua mãe o apoiava muito, hoje em dia, sua esposa, Tabitha, também escritora, é sua leitora ideal e a primeira crítica de seus
best sellers, a maioria viraram filmes, claro poxa, ele é o Stephen King! Então ele mostra como chegou até onde está, o que aconteceu para que ele chegasse exatamente onde queria. E foi assim: seguindo em frente e não desistindo nunca do que queria.
Nem sempre foi fácil, afinal ele têm problemas como todos nós temos, doença e morte em família e no caso dele até dependência química, mas ele conseguiu superar tudo isso para continuar a fazer o que ama fazer: escrever. Hoje em dia ele pode se dar ao luxo de ser escritor em tempo integral, mas no começo da carreira teve vários outros empregos e encaixava a escrita em algum horário, e ele também cita vários outros autores assim, que tinham empregos completamente diferentes mas que escreviam mesmo assim, encontravam um tempo para isso, ou na verdade, ‘criavam’ esse tempo para escrever porque era isso que eles queriam ser.
Agora você pode se perguntar: ‘mas eu não tenho certeza se é isso que eu realmente quero para minha vida’ ou então ‘vou me esforçar tanto para não ganhar nada ou quase nada?’.
A resposta do Stephen King (e agora a minha também) é assim: ‘nunca foi pelo dinheiro’. Nunca deve ser pelo dinheiro. Se for isso que você está procurando, então esqueça e vá fazer qualquer outra coisa, menos escrever. O ato de escrever um livro, de contar histórias, de entrar na mente dos leitores deverá ser de pura diversão. Se você não se divertir e achar isso um fardo, você não nasceu para isso. Mas se ao escrever, você se diverte, se sente alegre, feliz, aí sim você pode vir a ser um bom escritor profissional. 

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