sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A coragem de Hugo Cabret

Terminei outro dia a leitura do livro "A invenção de Hugo Cabret" do escritor Brian Selznick, de propriedade da minha filha, porque eu tinha assistido ao filme mas ainda não tinha lido o livro. E apesar de achar o filme lindíssimo, as ilustrações do próprio autor no livro, não deixam nada a desejar, são maravilhosas.
Como eu adoro literatura infanto-juvenil e fantasias, decidi que essa história seria uma entre as minhas preferidas.
A história se passa em Paris no ano de 1931. Hugo Cabret é um menino órfão mas que adora mecanismos. Enquanto seu pai ainda era vivo e trabalhava em um museu, encontrou um autômato abandonado por lá e contou para o seu filho que, insistiu que o pai o consertasse. Mas não conseguiu concluir seu objetivo porque morreu antes disso, deixando essa tarefa para Hugo, que por sua vez, imaginou que assim que consertasse o autômato, este lhe daria alguma mensagem de seu falecido pai. Hugo entra de cabeça nesse propósito e enfrenta tudo e todos para alcançar seu objetivo. Mas as entrelinhas é que me fascinaram. Um menino completamente sozinho, morando (escondido) em uma estação de trem, ajustando os relógios, passando fome, frio, tendo que roubar, sempre sujo e sem ninguém para se preocupar com ele. Até aí ok, a história é triste.
Mas mesmo passando por todas essas dificuldades, ele não desisti de seu sonho e continua indo em frente, apesar de todos os obstáculos e acaba expandindo esse sonho com outros personagens do livro.
Hugo Cabret, em minha opinião, é um menino muito corajoso, mas não por conseguir sobreviver, mas sim por não deixar que nada o faça desistir. Eu me lembrei que um dia também fui assim, mas cheguei a esmorecer diante de algumas dificuldades. Sinto nele o perfume da coragem da juventude, da ausência do medo de persistir naquilo que quer. Nós vamos crescendo e deixando alguns (ou muitos) sonhos para trás, vamos nos esquecendo deles porque as responsabilidades crescem a cada dia. Então vamos trabalhando para sobreviver, vamos gastando horas em frente a TV, ao smartphone, nas redes sociais, vamos vivendo no piloto automático, porque, infelizmente, perdemos esse vigor da juventude. Esse ar heróico que tínhamos quando achávamos que seríamos jovens para sempre, que nada nem ninguém nos tiraria de nosso eixo. Mas nós mesmos saímos de nossos eixos, consciente ou inconscientemente.
Vamos deixando a vida nos levar, vamos empurrando com a barriga, vamos deixando acontecer. Até um dia quando você ouve uma música no rádio do carro que te traz a lembrança de quem você era e de quem você é hoje. Uma música ou um filme ou um perfume que te lembram uma época e que você tinha simplesmente esquecido. Nessa hora nos damos conta do tempo que passou.
É só olhar para os jovens, adolescentes e você se lembrará. Lembrará que já foi como eles, já teve esse ar imbatível, mas com a correria e os problemas da vida nos acovardamos.
E foi nesse livro que lembrei de como eu era e de como eu sou hoje. Mas esses sinais estão em toda a parte, basta você estar disposto para olhar para eles. E, graças a Deus, eles dizem claramente: sempre há tempo de voltar e fazer de novo. Se você estiver olhando para a sua vida e não estiver satisfeito com o que vê, pare e comece de novo. Você pode errar, você pode falhar, você pode começar do zero novamente, porque sempre é tempo de recomeçar. Não tenha medo das mudanças e nem das suas escolhas, lembre-se que, mesmo se você não escolher, escolhido estará. Então aja. Corra atrás. Faça o que tem vontade de fazer. Mesmo que você não possa largar seu emprego, mantenha o que você ama fazer como um "hobby", mas mantenha por perto, não se distancie de você mesmo.
Olhe de perto para tudo de bom que a sua vida tem hoje, mas não pare mais que um segundo observando os problemas, porque você tomará a decisão certa para resolvê-los, se preocupar não vai ajudar em nada. Respire e sinta que um sangue juvenil ainda corre em suas veias, você não está velho nem ultrapassado, você é a expressão física da vida. Dê valor aos seus sentimentos e emoções, perceba que não está sozinho e siga em frente com todo o seu amor.
Não perca nunca seu entusiasmo em viver, em acordar cedo, em ter que ir trabalhar, em ter que ir ao médico, em sentir alguma dor, em fazer uma refeição, em saborear uma bebida. Volte a enxergar como você e eu enxergávamos antes de nos esquecermos quem éramos.
Grata Hugo Cabret, professor H. Alcofrisbas, autômato, ao cinema, a literatura, a Brian Selznick, que nossos esforços não sejam em vão, que possamos despertar aqueles que passam por nossas vidas da melhor forma possível.

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